Página:Obras poeticas de Claudio Manoel da Costa (Glauceste Saturnio) - Tomo II.djvu/243

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Pisando de uma sala o pavimento;
Por tudo refletia o luzimento
Da riqueza, que os tetos esmaltava;
Sobre colunas de cristal estava
Sustentado o edifício; delas pendem
Lâminas de ouro, onde seu rosto acendem
Em vivo resplandor Varões egrégios.
Da Fortuna e do Tempo os privilégios
Inculcam dominar; nas mãos sustentam
As insígnias do mando, e representam
A Régia Autoridade: em cada testa
Lhes verdeja o laurel que manifesta
A duração da imarcescível Fama.
Eulina, que Garcia ao lado chama,
Em um assento de ouro marchetado
Lhe tem junto a uma mesa preparado
O brinde da mais rara formosura.
Cem taças de ouro são, onde procura
Mostrar-lhe aos olhos quanto desentranha
De mais precioso o Rio, ou a Montanha.
Cerrava um branco véu logo diante
Uma estância; rasgou-se, e em breve instante
Deixou ver recortado junto a um monte
O venerando rosto de Itamonte.
Era de grossos membros a estatura,
Calva a cabeça, a cor um pouco escura,
De muitos braços, qual a idade vira
Tifeu, que a dura Terra produzira.

Quase a seus pés, o corpo debruçando
Sobre um punhal, estava trespassando
O peito um gentil Moço; da ferida
Uma fonte brotava, que estendida
Com as vermelhas águas rega a areia.