Rompe montões de apinhoada gente,
Procurando do paço a regia sala;
Eis que apparece o principe regente,
E o Indio assim lhe falla,
Cheio de submissão e de respeito
Co’ as mãos cruzadas no constante peito:
« Venho a teus pés, ó principe sagrado,
Beijar a regia mão de agradecido
Por teres meus direitos sustentado
Com valor desmedido,
Desmedido valor, prudencia e arte,
Dons conferidos só a Jove e Marte.
« Assim da Providencia a equidade,
Condoida de tanto soffrimento,
Em meus braços lançou a magestade,
Quando a Europa em tormento
Vê os ultimos thronos abalados,
Monarchas presos, outros degradados.
« Fui então exaltado a reino unido
Pelo sexto João, piedoso e terno,
Mas tirou da ternura o seu partido
A caterva do inferno,
Que reduzio do teu imperio nobre
O ouro e a prata a só papel e cobre.
« Gemia Portugal, tudo gemia,
Em desgraça fatal e sorte dura;
Apparece na Europa a luz do dia
Para nós sombra escura;
Visto nossos irmãos d’esse hemispherio
Quererem captivar todo este imperio.
« Pedem o rei e a familia excelsa
A pretexto de amor e lealdade;
Vai o sexto João sem que conheça
A encoberta maldade;
Elle emfim nos deixou, não de aggravado.
Visto deixar o seu penhor amado.
Página:Obras poeticas de Ignacio José de Alvarenga Peixoto (1865).djvu/83
Aspeto
— 77 —