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A SELECÇÃO NATURAL
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de forma bastante irregular; não pretendo dizer também que estes progressos sejam incessantes; é muito mais provável, pelo contrário, que cada forma persista sem alteração durante longos períodos, pois que é de novo submetida a modificações. Não pretendo dizer tão-pouco que as variedades as mais divergentes persistam sempre; uma forma média pode persistir durante muito tempo e pode, ou não, produzir mais do que um descendente modificado. A selecção natural, com efeito, actua sempre em razão dos lugares vagos, ou daqueles que não estão perfeitamente ocupados por outros seres, e isto envolve relações infinitamente complexas. Mas, em regra geral, quanto mais os descendentes de uma espécie qualquer se modificam com relação à conformação, tanto mais probabilidades têm de se apoderar dos lugares e tanto mais a sua descendência modificada tende a aumentar. No nosso diagrama, a linha de descendência é interrompida em intervalos regulares por letras minúsculas com números, indicando as formas sucessivas que se tornaram suficientemente distintas para que se reconheçam como variedades; diga-se de passagem que estes pontos são imaginários e que poderiam ter-se colocado não importa aonde, deixando intervalos assaz longos para permitir a acumulação de uma soma considerável de variações divergentes.

Como todos os descendentes modificados de uma espécie comum e muito espalhada, pertencendo a um género rico, tendem a participar das vantagens que deram ao antepassado a preponderância na luta pela existência, multiplicam-se ordinàriamente em número, ao mesmo tempo que os seus caracteres se tornam mais divergentes; este facto é representado no diagrama por diferentes ramos divergentes que partem de A. Os descendentes modificados dos ramos mais recentes e mais aperfeiçoados tendem a tomar o lugar dos ramos mais antigos e menos aperfeiçoados, e por isso a eliminá-los; os ramos inferiores do diagrama, que não chegam até às linhas horizontais superiores, indicam este facto. Em qualquer caso, sem dúvida, as modificações produzem-se numa só linha de descendência, e o número de descendentes modificados não se aumenta, posto que a soma das modificações divergentes tenha aumentado. Este caso seria representado no diagrama se todas as linhas partindo de A fossem levantadas, à excepção das que partissem de a1 até a10. O cavalo de corrida inglês, e o cão de caça inglês evidentemente divergem lentamente da sua origem primitiva da forma que acabamos de indicar, sem que algum deles produzisse ramos ou novas raças.

Suponhamos que, após dez mil gerações, a espécie A tenha