Página:Origem das espécies (Lello & Irmão).pdf/156

Wikisource, a biblioteca livre
130
ORIGEM DAS ESPÉCIES

considerar apenas o conjunto do fenómeno como um facto puramente local, e a analogia que existe entre aquelas faunas que habitam a caverna do Mammouth (Kentucky) e as que habitam as cavernas da Carniola, como a expressão da analogia que se observa geralmente entre a fauna da Europa e a da América do Norte». Na hipótese que considero, devemos supor que os animais americanos, dotados na maior parte dos casos da faculdade ordinária da vista, têm deixado o mundo exterior, para se mergulhar lentamente e por gerações sucessivas nas profundezas das cavernas do Kentucky, ou, como o fazem outros animais, as cavernas da Europa. Possuímos algumas provas da gradação deste hábito; Schiödte acrescenta, com efeito: «Podemos, pois, considerar as faunas subterrâneas como pequenas ramificações que, destacadas das faunas geográficas limitadas da vizinhança, penetravam a terra e que, à medida que mergulhavam cada vez mais na obscuridade, se acomodavam às suas novas condições de existência. Animais pouco diferentes das formas ordinárias trouxeram a transição; em seguida, vêm os conformados para viver na meia-luz; por fim, os destinados à obscuridade completa e de que a estrutura é muito particular». Devo juntar que estes reparos de Schiödte se aplicam, não a uma só espécie, mas a muitas espécies distintas. Quando, após inúmeras gerações, o animal atinge as maiores profundidades, o não uso do órgão tem-se atrofiado mais ou menos completamente, e a selecção natural dá-lhe, algumas vezes, uma espécie de compensação pela cegueira, determinando um aumento nas antenas. Apesar destas modificações, devemos ainda encontrar certas afinidades entre os habitantes das cavernas da América e os outros habitantes deste continente, assim como entre os habitantes das cavernas da Europa e os do continente europeu. Ora, o professor Dana diz-me que o mesmo sucede com alguns dos animais que habitam as grutas subterrâneas da América; alguns insectos que habitam as cavernas da Europa são muito próximos dos que habitam a região adjacente. Na hipótese ordinária de uma criação independente, seria difícil explicar de forma racional as afinidades que existem entre os animais cegos das grutas e os restantes habitantes do continente. Devemos, além disso, procurar obter, entre os habitantes das grutas subterrâneas do antigo e novo mundo, a analogia bem conhecida que referimos a respeito da maior parte das outras produções. Como se encontra em abundância, sobre os rochedos escondidos, longe das grutas, uma espécie cega de Bathyscia, a perda da vista na espécie deste género que habita as grutas subterrâneas, não tem provavelmente relação alguma com a obscuridade do seu habi-