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VIII
ORIGEM DAS ESPÉCIES

cie, é inútil entrar aqui em maiores minudências a respeito dos seus trabalhos.

Lamarck foi o primeiro que despertou pelas suas conclusões, um estudo sério sobre tal assunto. Este sábio, justamente célebre, publicou as suas opiniões, pela vez primeira, em 1801; desenvolveu-as consideràvelmente em 1809, na sua Philosophie Zoologique, e subsequentemente em 1815, na introdução à sua Histoire Naturelle des Animaux sans Vertèbres. Sustenta nas suas obras a doutrina de que todas as espécies, compreendendo o próprio homem, derivam de outras espécies. Foi ele o primeiro que prestou à ciência o grande serviço de declarar que toda a alteração no mundo orgânico, bem como no mundo inorgânico, é o resultado de uma lei, e não uma intervenção miraculosa. A impossibilidade de estabelecer uma distinção entre as espécies e as variedades, a gradação tão perfeita em certos grupos, e a analogia das produções domésticas, parece terem conduzido Lamarck às suas conclusões a respeito das transformações graduais das espécies. Quanto às causas da modificação, procurou-as ele em parte na acção directa das condições físicas da existência, no cruzamento das formas já existentes, e sobretudo no uso e não uso, isto é, nos efeitos do hábito. É a esta última causa que parece ligar todas as admiráveis adaptações da natureza, tais como o longo pescoço da girafa, que lhe permite pascer as folhas das árvores. Admite igualmente uma lei de desenvolvimento progressivo; ora, como todas as formas da vida tendem também ao aperfeiçoamento, ele explica a existência actual dos organismos muito simples pela geração espontânea. [1]

Geoffroy Saint-Hilaire, como pode ver-se na sua biografia, escrita por seu filho, já, em 1795, tinha suposto que o que chamamos espécies não são mais que desvios variados do mesmo tipo. Foi sòmente em 1828 que se declarou convencido que as mesmas formas se não perpetuam desde a origem de todas as coisas; parece ter considerado as condições de existência ou meio ambiente como a causa primordial de cada transformação.


    forma é o resultado de um acidente. O mesmo se diz para os outros órgãos que parecem adaptados a determinado acto. Por toda a parte, pois, todas as coisas reunidas (isto é, o conjunto das partes de um todo) são constituídas como se tivessem sido feitas com vista em algum desiderato; estas formas de uma maneira apropriada, por uma espontaneidade interna, são conservadas, enquanto que, no caso contrário, têm desaparecido e desaparecem ainda». Encontra-se aqui um esboço dos princípios da selecção natural; mas as observações sobre a conformação dos dentes indicam quão pouco Aristóteles compreendia estes principios.

  1. É na excelente história de Isidore Geoffroy Saint-Hilaire («Hist. Nat. Générale», 1859, t. ii, p. 405) que encontrei a data da primeira publicação de Lamarck; esta obra contém também um resumo das con-