Página:Origem das espécies (Lello & Irmão).pdf/184

Wikisource, a biblioteca livre
158
ORIGEM DAS ESPÉCIES

los sucessivos, espécies muito próximas, ou espécies representativas, que ocupam evidentemente pouco mais ou menos o mesmo lugar na economia natural do país. Estas espécies representativas encontram-se muitas vezes em contacto e confundem-se mesmo umas com outras; pois, à medida que uma se torna cada vez mais rara, a outra aumenta pouco a pouco e acaba por substituir a primeira. Mas, se nós compararmos estas espécies onde elas se confundem, não são em geral tão absolutamente distintas umas das outras, por todas as particularidades de conformação, como o podem ser os indivíduos tomados mesmo no centro da região que constitui o seu habitat ordinário, Estas espécies próximas, na minha hipótese, descendem de uma origem comum; durante o decorrer das suas modificações, cada uma delas deve ter-se adaptado às condições de existência da região que habita, deve ter suplantado e exterminado a forma original semelhante, assim como todas as variedades que formam as transições entre o seu estado actual e os seus diferentes estados anteriores. Não se deve esperar encontrar actualmente, em cada localidade, numerosas variedades de transição, posto que devam ter existido e que possam estar aí enterrados no estado fóssil. Mas porque se não encontram actualmente, nas regiões intermediárias, apresentando condições de existência intermediárias, variedades ligando intimamente umas às outras as formas extremas? Eis uma dificuldade que me embaraçou durante muito tempo; mas pode explicar-se, creio eu, até certo ponto.

Em primeiro lugar, é necessário evitar concluir que uma região foi contínua durante longos períodos, porque assim o é hoje. A geologia parece demonstrar-nos que, mesmo durante as últimas partes do período terciário, a maioria dos continentes eram divididos em ilhas nas quais as espécies distintas podiam formar-se separadamente, sem que as variedades intermediárias pudessem existir nas zonas intermédias. Em seguida a modificação na forma das terras e as alterações climatéricas, as superficies marinhas actualmente contínuas devem ter existido muitas vezes até uma época recente, num estado muito menos uniforme e muito menos contínuo que ao presente. Mas não insisto sobre este meio de evitar a dificuldade; julgo, com efeito, que muitas espécies perfeitamente definidas são formadas nas regiões estritamente contínuas; mas creio, por outra parte, que o estado outrora dividido de superfícies que não fazem hoje mais do que uma, representou um papel importante na formação de novas espécies, sobretudo nos animais errantes que se cruzam fàcilmente.