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XII
ORIGEM DAS ESPÉCIES

nião de que é mais provável que as espécies novas tenham sido produzidas por descendência com modificação do que criadas separadamente; o autor tinha já exprimido esta opinião em 1831.

Na sua obra Nature of Limbs, p. 86, o professor Owen escrevia em 1849: «A ideia arquétipo está encarnada no nosso planeta por manifestações diversas, muito tempo antes da existência das espécies animais de que são actualmente a expressão. Mas, até agora, ignoramos inteiramente a que leis naturais ou a que causas secundárias têm sido submetidas a sucessão regular e a progressão destes fenómenos orgânicos». No seu discurso na Associação Britânica, em 1858, fala (p. 51) do «axioma da contínua potência criadora, ou do destino preordenado das coisas vivas». Mais adiante, a propósito da distribuição geográfica, acrescenta: «Estes fenómenos abalam a crença em que estávamos de que o aptérix da Nova Zelândia e o «tetras urogallus L.» da Inglaterra tenham sido criações distintas feitas numa ilha e só para ela. É útil, além disso, lembrar sempre que o zoólogo atribui o nome de criação ao processo sobre o qual nada se conhece». Desenvolve esta ideia acrescentando que todas as vezes que um «zoólogo cita exemplos, como o precedente, para provar uma criação distinta numa ilha e para ela, quer dizer sòmente que não sabe como o «tetras urogallus L.» se encontra exclusivamente neste lugar, e que esta maneira de exprimir a sua ignorância implica ao mesmo tempo a crença numa grande causa criadora primitiva, à qual a ave, assim como as ilhas, devem a sua origem». Se nós relacionarmos as frases pronunciadas no seu discurso umas com as outras, parece que em 1858 o célebre naturalista não estava convencido que o aptérix e o «tetras urogallus L.» tenham aparecido pela primeira vez nos seus países respectivos, sem que se possa explicar como e porquê.

Este discurso foi pronunciado após a leitura da memória de M. Wallace e minha, sobre a origem das espécies da Sociedade Lineana. Quando da publicação da primeira edição da presente obra, fui, como muitos outros, tão completamente enganado por expressões como «a acção contínua do poder criador», que coloquei o professor Owen, com outros paleontólogos, entre os partidários convictos da imutabilidade da espécie; mas parece-me que foi um grave erro da minha parte (Anatomy of Vertebrates, vol. iii, p. 796). Nas precedentes edições da minha obra concluí e mantenho ainda a minha conclusão, segundo uma passagem que começa (ibid., vol. i, p. 35), por estas palavras: «Sem dúvida a forma-tipo, etc.», que o professor Owen admitia a selecção natural como podendo ter contribuído em alguma coisa para a formação de novas espécies; mas parece-me,