actuasse de uma forma persistente, todos os indivíduos da espécie seriam semelhantemente modificados.
Nas edições anteriores desta obra, não tenho, isto parece agora provável, atribuído bastante valor à frequência e à importância das modificações devidas à variabilidade espontânea. Mas é impossível atribuir a esta causa as inumeráveis conformações perfeitamente adaptadas aos hábitos vitais de cada espécie. Jamais posso acreditar nisto como não posso explicar por este meio a forma perfeita do cavalo de corrida ou do galgo, adaptação que maravilhava do mesmo modo os antigos naturalistas, quando o princípio da selecção pelo homem não era ainda bem compreendido.
Pode ser útil citar alguns exemplos em auxílio de algumas notas que precedem. No que diz respeito à inutilidade suposta de diversas partes e de diferentes órgãos, é apenas necessário lembrar que existem, mesmo nos animais mais elevados e melhor conhecidos, conformações bastante desenvolvidas para que ninguém ponha em dúvida a sua importância; todavia, o seu uso foi reconhecido por completo apenas recentemente. Bronn cita o comprimento das orelhas e da cauda, em muitas espécies de ratos, como exemplos, insignificantes é verdade, de diferença de conformações sem uso especial; ora, notarei que o Dr. Schöbl verifica, nas orelhas externas do rato comum, um desenvolvimento extraordinário dos nervos, de tal maneira que as orelhas servem provavelmente de órgãos tácteis; o comprimento das orelhas não é pois sem importância. Veremos em breve que, em algumas espécies, a cauda constitui um órgão preênsil muito útil; o seu comprimento deve pois contribuir para exercer uma influência sobre o seu uso.
A propósito das plantas, limito-me, seguindo a memória de Nageli, às notas seguintes; admite-se, penso eu, que as flores das orquídeas apresentam uma série de conformações curiosas, que se teriam considerado, há alguns anos, como simples diferenças morfológicas sem função especial. Ora, sabe-se hoje que têm uma importância enorme para a fecundação da espécie por meio dos insectos, e que foram adquiridas provavelmente pela acção da selecção natural. Quem, até há muito pouco tempo, imaginaria que, nas plantas dimorfas e trimorfas, os comprimentos diferentes dos estames e dos pistilos, assim como a sua disposição, podiam ter alguma utilidade? Sabemos hoje que a têm e considerável.
Em certos grupos completos de plantas, os óvulos são erectos, em outros são inclinados; ora, num mesmo ovário de certas plantas, um óvulo ocupa a primeira posição, e um segundo a