Página:Origem das espécies (Lello & Irmão).pdf/253

Wikisource, a biblioteca livre
OBJECÇÕES DIVERSAS
227

por hereditariedade de um antepassado comum. Isto conduz-me a pensar que uma ligeira tendência neste género de movimento não deve ser rara nas plantas não trepadoras, e que esta tendência deve fornecer à selecção natural a base sobre que pode actuar para a aperfeiçoar. Somente conhecia, quando fiz esta reflexão, um único caso muito imperfeito, o dos novos pecíolos florais do Maurandia, que se enrolam ligeira e irregularmente, como os caules das plantas trepadoras, mas sem fazer uso algum desta aptidão. Fritz Müller descobriu pouco depois que os novos caules de um Alisma e de um Linum — plantas não trepadoras e muito afastadas uma da outra no sistema natural — são afectados de um movimento de rotação bem nítido, mas irregular; acrescenta que tem razões para acreditar que esta mesma aptidão existe em outras plantas. Estes ligeiros movimentos parece não prestarem serviço algum a estas plantas, e em todos os casos não lhes permitem de forma alguma subir, ponto de que nós nos ocupámos. Todavia, compreendemos que se os caules destas plantas fossem flexíveis, e que, nas condições em que se acham colocados, lhes fosse útil subir a uma certa altura, o movimento de rotação lento e irregular que lhes é habitual poderia, devido à selecção natural, aumentar-se e utilizar-se até que se transformassem em espécies trepadoras bem desenvolvidas.

Pode aplicar-se à sensibilidade das hastes das folhas, flores e gavinhas as mesmas observações que aos casos de movimento rotatório das plantas trepadoras. Encontrando-se este género de sensibilidade num número considerável de espécies que pertencem a grupos muito diferentes, deve encontrar-se num estado nascente em muitas plantas que se não tornaram trepadoras. Ora, isto é exacto; na Maurandia de que já falei, observei que os novos pedúnculos florais se inclinam ligeiramente para o lado onde se lhes toca. Morren verificou em muitas espécies de Oxalis movimentos nas folhas e nos caules, sobretudo depois de serem expostos aos raios ardentes do Sol, quando se lhes toca levemente e repetidas vezes, ou se sacode a planta. Renovei, com idêntico resultado, as mesmas experiências em outras espécies de Oxalis; em algumas o movimento é perceptível, mas mais nítido nas folhas novas; nas outras espécies o movimento é extremamente ligeiro. Há um facto mais importante, se devemos acreditar Hofmeister, alta autoridade nestas matérias: os novos rebentos e as folhas de todas as plantas entram em movimento depois de terem sido sacudidas. Sabemos que, nas plantas trepadoras, os pecíolos, os pedúnculos e as gavinhas são sensíveis sòmente durante o primeiro período de crescimento.