Página:Origem das espécies (Lello & Irmão).pdf/306

Wikisource, a biblioteca livre
280
ORIGEM DAS ESPÉCIES

cies mães, são em geral, salvo raras excepções, extremamente estéreis. Do mesmo modo, entre os híbridos que têm um conformação habitualmente intermediária entre os seus pais, encontram-se por vezes alguns indivíduos excepcionais que se assemelham quase que por completo a um dos ascendentes puros; estes híbridos são quase sempre absolutamente estéreis, mesmo quando outros indivíduos provenientes de sementes tiradas da mesma cápsula são muito fecundos. Estes factos provam o quanto a fecundidade de um hibrido pouco depende da sua semelhança exterior com uma ou outra das formas puras de origem.

Depois das regras precedentes, que regem a fecundidade dos primeiros cruzamentos e dos híbridos, vemos que, quando se cruzam formas que se podem tomar como espécies bem distintas, a fecundidade delas apresenta todos os graus desde zero até à fecundidade perfeita, a qual pode mesmo, em certas condições, ser levada ao extremo; que esta fecundidade, embora seja fàcilmente afectada pelo estado favorável ou desfavorável das condições exteriorcs, é favorável em virtude de predisposições inatas; que esta fecundidade não é sempre igual em grau, no primeiro cruzamento e nos híbridos que provêm deste cruzamento; que a fecundidade dos híbridos não está, além disso, em relação com o grau de semelhança exterior que podem ter com uma ou outra das suas formas origens; e, finalmente, que a facilidade com que um primeiro cruzamento entre duas espécies pode ser efectuado nem sempre depende das suas afinidades sistemáticas, ou do grau de semelhança que possa haver entre elas. A realidade desta asserção demonstra-se pela diferença dos resultados que dão os cruzamentos recíprocos entre as duas mesmas espécies, porque, embora uma das duas seja empregada como pai ou como mãe, há ordinàriamente alguma diferença, e por vezes uma diferença considerável, na facilidade que se encontra em realizar esse cruzamento. Por outro lado, os híbridos provenientes de cruzamentos diferem muitas vezes em fecundidade.

Estas leis singulares e complexas indicam que os cruzamentos entre espécies foram feridos de esterilidade ùnicamente porque as formas orgânicas se não podem confundir na natureza? Não o creio. Porque, com efeito, seria a esterilidade tão variável, quanto ao grau, segundo as espécies que se cruzam, para que devamos supor que é igualmente importante para todas evitar a mistura e a confusão? Porque será variável o grau de esterilidade em virtude de predisposições inatas entre indivíduos diversos da mesma espécie? Porque se cruzam espécies que com a maior facilidade produzem híbridos muito estéreis, ao passo