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ORIGEM DAS ESPÉCIES

espessos não podem acumular-se nas partes pouco profundas mais favoráveis à vida. Estes depósitos são ainda menos possíveis durante os períodos intermediários de levantamento, ou, para melhor dizer, as camadas já acumuladas são geralmente destruídas à medida que o seu levantamento, levando-as ao nível da água, as põe em contacto com a acção destrutiva das vagas costeiras.

Estas notas aplicam-se principalmente às formações litorais, ou sublitorais. No caso de um mar extenso e pouco profundo, como numa grande parte do arquipélago malaio, em que a profundidade varia entre 30, 40 e 60 braças, uma vasta formação poderia acumular-se durante um período de levantamento, e, contudo, não sofrer uma grande degradação na época da sua lenta emersão. Todavia, a sua espessura não poderia ser muito grande, porque, em razão do movimento ascensional, seria menor que a profundidade da água onde se formou. O depósito não seria nem mais sólido, nem coberto de formações subsequentes, o que aumentaria as probabilidades de ser desagregado pelos agentes atmosféricos e pela acção do mar durante as oscilações ulteriores do nível. M. Hopkins fez notar, todavia, que se uma parte da superfície vinha, depois de um levantamento, a diminuir de novo antes de ter sido desnudada, o depósito formado durante o movimento ascencional poderia ser em seguida coberto por novas acumulações, e ser assim, ainda que delgado, conservado durante longos períodos.

M. Hopkins julga também que os depósitos sedimentares de grande extensão horizontal foram apenas raramente destruídos por completo. Mas todos os geólogos, à excepção do pequeno número dos que julgam que os nossos xistos metamórficos actuais e as nossas rochas plutónicas formavam o núcleo pri mitivo do globo, admitirão que estas últimas rochas foram submetidas a uma desnudação considerável. Não é possível, com efeito, que tais rochas se solidificassem e cristalizassem ao ar livre; mas se a acção metamórfica se efectuou nas grandes profundezas do oceano, o revestimento protector primitivo das rochas pode não ter sido muito espesso. Se, pois, se admite que os gneisses, os micaxistos, os granitos, os diorites, etc., foram outrora necessàriamente recobertos, como explicar que imensas superfícies destas rochas sejam actualmente desnudadas em tantos pontos do globo, de outra maneira diversa da desagregação subsequente e completa de todas as camadas que as cobriam? Não se pode duvidar que existem semelhantes extensões muito consideráveis; segundo Humboldt, a região granítica de Parima é pelo menos dezanove vezes maior que a Suíça. Ao sul do Ama-