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INSUFICIÊNCIA DOS DOCUMENTOS GEOLÓGICOS
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sitos carboníferos tendo 1 400 pés de espessura, formados de camadas sobrepostas contendo raízes, e isto a sessenta e oito níveis diferentes. Assim, quando a mesma espécie se encontra na base, no meio e no vértice de uma formação, há toda a probabilidade de não ter vivido no mesmo ponto durante todo o período do depósito, mas que apareceu e desapareceu, muitas vezes talvez, durante o mesmo período geológico. Por conseguinte, se semelhantes espécies tivessem sofrido, durante o curso de um período geológico, modificações consideráveis, um ponto dado da formação não encerraria todos os graus intermédios de organização que, pela minha teoria, deviam ter existido, mas apresentaria alterações de formas súbitas, ainda que talvez pouco consideráveis.

É indispensável lembrar que os naturalistas não têm forma alguma matemática que lhes permita distinguir as espécies das variedades; concordam numa pequena variabilidade em cada espécie; mas logo que encontram algumas diferenças um pouco mais frisantes entre duas formas, consideram-nas ambas como espécies, a não ser que não possam ligá-las por uma série de gradações intermédias muito vizinhas; ora, só muito raramente, e em virtude das razões que acabamos de expor, devemos esperar encontrar, numa secção geológica qualquer, uma aproximação semelhante. Suponhamos duas espécies B e C, e que se encontra, numa camada subjacente e mais antiga, uma terceira espécie A; admitindo mesmo que seja rigorosamente intermédia entre B e C, seria simplesmente considerada como uma espécie distinta, a não ser que se não encontrem variedades intermediárias ligando-a com uma ou outra das duas formas ou com outras. É necessário não esquecer que, assim como já explicámos, A poderia ser o ascendente do B e de C, sem ser rigorosamente intermediário entre os dois em todos os seus caracteres. Poderíamos pois encontrar nas camadas inferiores e superiores da mesma formação a espécie-mãe e os seus diferentes descendentes modificados, sem poder reconhecer o parentesco, na ausência das numerosas formas de transição, e, por consequência, as consideraríamos como espécies distintas.

Sabe-se em que diferenças excessivamente ligeiras muitos paleontólogos fundaram as suas espécies, e fazem-no tanto mais voluntàriamente quanto os especímenes provêm de várias camadas de uma mesma formação. Alguns conquiliólogos experimentados colocam actualmente na ordem das variedades um grande número de espécies estabelecidas por de Orbigny e tantos outros, o que nos fornece a prova das alterações que, pela minha teoria, devemos notar. Nos depósitos terciários recentes, encontram-se