Página:Origem das espécies (Lello & Irmão).pdf/354

Wikisource, a biblioteca livre
328
ORIGEM DAS ESPÉCIES

antigas que se conhecem. Os argumentos que me têm convencido de que todas as espécies do mesmo grupo derivam de um ascendente comum, aplicam-se igualmente às espécies mais antigas que conhecemos. Não há dúvida, por exemplo, que todos os trilobitas cambrianos e silurianos descendem de algum crustáceo que deve ter vivido muito tempo antes da época cambriana, e que diferia provavelmente muito de todos os animais conhecidos. Alguns dos mais antigos animais, como o Náutilo, a Língula, etc., não diferem muito das espécies vivas; e, segundo a minha teoria, sòmente se poderiam supor estas antigas espécies como os antepassados de todas as espécies dos mesmos grupos que apareceram a seguir, porque não apresentam em grau algum caracteres intermediários.

Por conseguinte, se a minha teoria é verdadeira, é certo que devem ter decorrido, antes das camadas cambrianas inferiores, períodos bastante longos, e provavelmente mesmo muito mais longos, do que toda a duração dos períodos compreendidos entre as épocas cambriana e actual, períodos desconhecidos durante os quais seres vivos povoaram a Terra. Encontramos aqui uma objecção formidável; pode duvidar-se, com efeito, que o período durante o qual o estado da Terra permitiu à sua superfície a vida, tenha durado muito tempo. Sir W. Thompson admite que a consolidação da crosta terrestre não pode elevar-se a menos de 20 milhões de anos, e não mais de 400 milhões, e deve estar mais provavelmente compreendida entre 98 e 200 milhões. O desvio considerável entre estes limites prova quanto estes dados são vagos, e é provável que outros elementos devam ser introduzidos no problema. M. Croll avalia em 60 milhões de anos o tempo decorrido desde o depósito dos terrenos cambrianos; mas, a julgar pela pouca importância das alterações orgânicas que se realizaram desde o começo da época glaciária, esta duração parece curta relativamente às modificações numerosas e consideráveis que as formas vivas têm sofrido desde a formação cambriana. Quanto aos 140 milhões de anos anteriores, a custo se podem considerar como suficientes para o desenvolvimento das formas variadas que existiam já durante a época cambriana. É todavia provável, como o faz notar expressamente sir W. Thompson, que durante estes períodos primitivos o globo devia ser exposto a alterações mais rápidas e mais violentas nas suas condições físicas do que actualmente; de onde também modificações mais rápidas nos seres organizados que habitavam a superfície da Terra nessas remotas épocas.

Porque não encontramos nós depósitos ricos em fósseis pertencendo a esses períodos primitivos anteriores à época cam-