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ORIGEM DAS ESPÉCIES

e tendo já invadido mais ou menos os territórios de outras espécies, sejam também as mais aptas para se estender ainda mais, e para produzir, em novas regiões, variedades e espécies novas. Pode a sua difusão ser por vezes muito lenta, porque depende de alterações climatéricas e geográficas, de acidentes imprevistos e da aclimação gradual das novas espécies nos diversos climas que hajam de atravessar; mas, com o tempo, são as formas dominantes que, em geral, têm mais probabilidades em se espalhar, e, finalmente, em prevalecer. É provável que os animais terrestres habitando continentes distintos se espalhem mais lentamente do que as formas marinhas povoando mares contínuos. Podemos, pois, chegar a encontrar, como se observa com efeito, um paralelismo menos rigoroso na sucessão das formas terrestres do que nas formas marinhas.

Parece-me, portanto, que a sucessão paralela e simultânea, dando a este último termo o sentido mais lato, das mesmas formas organizadas no globo concorda bem com o princípio segundo o qual novas espécies seriam produzidas pela grande extensão e pela variação das espécies dominantes. Sendo dominantes as próprias espécies novas, pois que têm ainda uma certa superioridade sobre as formas-mães que já existiam, assim como sobre outras espécies, continuam a espalhar-se, a variar e a produzir novas variedades. As espécies antigas, vencidas pelas novas formas vitoriosas, às quais cedem o lugar, são geralmente aliadas em grupos, consequência da herança comum de alguma causa de inferioridade; à medida pois que os grupos novos e aperfeiçoados se espalham na Terra, os antigos desaparecem, e por toda a parte há correspondência na sucessão das formas, tanto na sua primeira aparição como no desaparecimento final.

Creio ainda útil fazer uma observação a este respeito. Indiquei as razões que me levam a crer que a maior parte das nossas grandes formações ricas em fósseis foram depositadas durante períodos de abaixamento, e que interrupções de uma duração imensa, no que se refere ao depósito de fósseis, se deviam ter produzido durante as épocas em que o fundo do mar estava estacionário ou em via de levantamento, e também quando os sedimentos se não depositassem em assaz grande quantidade, nem assaz ràpidamente para esconder e conservar os restos dos seres organizados. Suponho que, durante estes longos intervalos, de que não podemos encontrar vestígio algum, os habitantes de cada região sofreram uma soma considerável de modificações e extinções, e que houve frequentes emigrações de uma região para outra. Como temos todas as razões para