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tinha aí os seus vinte e seis anos e já havia publicado algumas memórias interessantes sobre a paleontologia da Bruzundanga.

Não sei, ao certo, se continuou com brilho a sua estréia brilhante; mas, suspeito que não.

A sociedade da Bruzundanga mata os seus talentos, não porque os desdenhe, mas porque os quer idiotamente mundanos, cheios de empregos, como enfeites de sala banal.

O meio inconsciente de que ela se serve para tal fim, é o casamento.

O rapaz começa a fazer ruído e logo todos o cercam, já os de sua camada, já os de camada superior, se é de extração modesta.

É natural que ele encontre entre tantas damas da roda que o cerca a do seu pensamento.

Ei-lo casado; a mulher, porém, não pode compreender sábio que não ganhe muito dinheiro e viva modestamente. Não compreende nem Spinosa, nem Fabre. Se não se faz católico praticamente, o rapaz, para arranjar bons empregos, faz-se charlatão, acólito de políticos, já não medita, perde a pertinácia, para as pesquisas originais, publica compilações rendosas e enche-se de cargos públicos e particulares. É esta a trajetória de todas as "esperanças" intelectuais da Bruzundanga.

Penso, por isso, que o meu amigo, Halaké Ben Thoreca, como todos os seus iguais, se banalizou com o casamento e a conseqüente cavação de empregos. Tratemos, porém, da sua estréia eleitoral, como ele me contou. Vamos ouvi-lo:

"Pelos meus vinte e dois anos, uma manhã, li