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Os discípulos serão obrigados a repetir em coro e na toada de uso, todo um pantagruélico e imaginário menu: "seca desfiada, caldo à portuguesa, arroz com repolho, feijoada Camões, tripas à portuense, bifes à Itália", etc., etc...

O lente, um exemplar de homem assim como um gordo proprietário de casa de pasto da Rua da Misericórdia, sentado a uma mesinha, coberta com uma toalha eloqüentemente imunda, dirá subitamente a um dos alunos:

— Traga-me um arroz e um bacalhau, "Seu" Manuel.

O discípulo correrá até ao fundo da sala e, com a voz clássica do ofício, gritará para a fantástica cozinha:

— Salta um "chim" e um bacalhau.

O tirocínio acadêmico durará um ano, conferindo o título de bacharel em lista cantada e dando direito ao uso de um anel simbólico.

Afora estes, haverá o curso de barbeiro, de botequim, de compra de ferro velho, e outros. O mais difícil, porém, há de ser o de armarinho, cujas aulas funcionarão em uma rua principal da cidade, em uma rua como a nossa do Ouvidor, e terão lugar em grandes salas, guarnecidas de assentos em anfiteatro, como nas grandes escolas superiores.

Alguma dama facilmente adaptável figurará como freguesa atendida, pelo professor, que perpetrará os lânguidos olhares de uso nesse tráfico, ajudando-a na escolha das fazendas, cortando o padrão com elegância e dizendo as frases amáveis, espirituosas e adequadas a tão alto comércio: "em si, toda a fazenda vai bem; quem quer cassa, caça", etc., etc.