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sem destaque entre as suas iguais, teve o desaforo de pôr-se a tecer a sua teia no próprio teto do gabinete de um ministro da Bruzundanga e bem por cima de sua majestosa cadeira.

Houve, quando o trabalho ia adiantado, não sei que espécie de cataclismo, próprio ao universo das aranhas; e, tão forte foi ele, que um bom pedaço de labor do engenhoso articulado veio a cair em cima da sobrecasaca da poderosa autoridade da República da Bruzundanga.

Apesar do seu imenso poder e da sua forte visão de seguro guia de povos, o grave ministro não deu conta do desrespeito — involuntário, é verdade, mas desrespeito — de que acabava de ser objeto, por parte de uma miserável aranha, hedionda e minúscula.

Mas, não dando pelo fato, tratou de tomar o coupé para ir ao despacho coletivo, levando tão estranha condecoração (?) nas costas, quando o secretário, chapéu na mão, todo mesuroso, pedindo licença, tirou a prova da indignidade do bichinho das vestes do seu amo. E ele já entrava no carro!...

Suponhamos que tal não se tivesse dado, isto é, que o ministro entrasse para o alto sínodo cuja presidência competia ao mandachuva, com aquele evidente atestado de relaxamento.

Que pensaria o supremo da Bruzundanga? Naturalmente, penso eu, que os negócios da pasta que lhe havia confiado, mereciam-lhe o mesmo cuidado que a sua sobrecasaca.

Ah!, Os secretários de ministro! Como são úteis!

Além desses préstimos tão relevantes de que eles