Página:Os Bruzundangas.pdf/172

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para impressionar os estrangeiros, e, apesar de não ter feito obra alguma de alcance social para a Bruzundanga, o povo o adorava porque o julgava admirado pelos países estranhos e seus sábios.

Se alguém se lembrava de censurar esse seu desavergonhado modo e governar, logo os jornalistas habituados a canonizações simoníacas e parlamentares que gostavam do pot-de-vin, gritavam: que tipo mesquinho! Criticar esse patrimônio nacional que é o Visconde de Pancôme, por causa de ninharias! Ingrato!

Diante dessa desculpa de patrimônio nacional, toda a gente se calava e o país ia engolindo as afrontas que o seu ministro fazia às suas leis e aos seus regulamentos.

De onde — hão de perguntar — lhe tinha vindo tal prestígio? É fácil de explicar.

Ele veio, no fim, da tal história das condecorações que já lhes contei — fato que encheu de júbilo todo o povo daquela pátria, porque a República das Planícies que Pancôme trabalhava para sempre andar às turras com a Bruzundanga, não as tinha obtido, apesar de disputá-las. Antes disso, porém, ele já tinha um ascendente bem forte, devido a uma grande proeza. Pancôme tinha subido ao cume do Tiaya, o modesto Himalaia da corografia da República da Bruzundanga, dois mil e novecentos a três mil metros de altitude. Vou-lhes contar como a cousa foi.

Um dia, estando Pancôme nas proximidades dessa montanha, anunciou a todos os quadrantes que ia escalá-la.

Os bruzundanguenses do lugar sorriram diante do projeto daquele homem gordo e pesado. Aquilo (o monte), diziam, era muito alto e ele não teria fôlego para