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em que um bom almotacé ainda podia, com proveito, animar o plantio de árvores frutíferas, hortaliças, legumes e a criação de pequeno gado, na zona rural.

Com essa decepção na alma, pois não podia admitir que uma cidade não tivesse nos arredores matadouros, para o fabrico da carne salgada, resolveu certo dia visitar as dependências da sua repartição. Chegou ao arquivo. O arquivista, que era zeloso e conhecia bem a história da cidade, prontificou-se a mostrar-lhe os documentos curiosos da vida passada da linda capital:

— Vossa Excelência vai ver as atas das sessões do Senado da Câmara, que...

Eram documentos escritos dos mais antigos, não só da história da cidade, como da do país inteiro; mas o almotacé, com grande surpresa de toda a comitiva, exclamou amuado:

— Como? O quê?

— ...as atas do Senado da Câmara, Excelência.

— Qual! Senado é uma cousa e Câmara é outra. Como Senado da Câmara? Que embrulho? Cada um se governa por si... A Constituição...

— Mas...

— Não tem mas, não tem nada. Mande o que é do Senado, para o Senado; e o que é da Câmara, para a Câmara.

Um grande filósofo afirmou que, para bem se conhecer uma instituição, uma ciência, um país, era necessário saber-lhes a história; e ninguém, penso, pode admitir que se possa administrar bem qualquer cousa sem a conhecer perfeitamente.