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homem; e ele autoriza a publicação de atos oficiais do governo de sua província, cujas contas o erário departamental paga generosamente aos seus jornais e revistas.

Os calenders provincianos estão cada vez mais contentes com ele e o nosso homem já economizou, sobre subsídios, mais do que a mulher trouxe para a sociedade conjugal.

É um homem metódico, pontual nos pagamentos, não gasta dinheiro em cousas inúteis, como seja em livros.

Uma noite ou outra, vai ao Teatro Lírico, mas logo se aborrece, não só ele como a futura Mme. Mandachuva. Preferia, madame, estar a dormir naquela hora, e ele a jogar solo na botica, antes do que permanecerem ali, apertados nos vestuários, a ouvir umas cantorias em língua que não entendem. Que saudades do gramofone! Para ele, há secas piores...

Ainda a música ele suporta um tanto, mas as tais exposições de pintura, as sessões de academias... Irra! Que estafa!

Foge de ir a elas; e todo o seu medo é vir a ser presidente da Bruzundanga, pois será obrigado a comparecer a tais festas.

A sua leitura continua a ser os jornais, porém não pega mais nos manuais, nos indicadores de legislação.

As necessidades artísticas de sua natureza se cifram no gramofone doméstico e nos cinemas urbanos ou do arrabalde em que reside. Faz coleção dos programas destes últimos e, com eles, organiza a sua opulenta biblioteca literária.