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Lucia Maria Bastos Pereira das Neves Os esquecidos no processo da Independência: uma história a se fazer

Almanack, Guarulhos, n. 25, ef00220, 2020

http://doi.org/10.1590/2236-463325ef0022

nião de seu filho Bento, defensor da causa constitucional portuguesa, saiu de Salvador e partiu para o interior a fim de assegurar a posse de seu engenho no ápice da guerra civil, quando lhe parecia perdida a causa portuguesa. Seu outro filho, Luís, adotou o Brasil como “pátria de direito”[1], aderindo às forças fiéis a Pedro I, fazendo parte do exército de Labatut. Ainda tinha duas filhas: uma casada com um brasileiro nato e que seguiu desde cedo a causa da Independência, e a outra, ainda criança, que acompanhava sempre sua mãe.

Maria Bárbara ainda viveu por muito anos no Brasil. O marido faleceu em 1824, quando, como representante de Portugal, veio ao Brasil na missão Rio Maior (1823), acabando proibido de desembarcar na Bahia e morrendo em alto mar na viagem de volta a Portugal. Viúva, porém, apesar de sua opção por Portugal, ela acabou por reconhecer o papel de D. Pedro como fundamental para salvar o Brasil da anarquia[2]. Há registros de sua presença nos salões da capital baiana como uma grande dama, louvada por sua gentileza. Como descreve Wanderley Pinho, era presença marcante nos salões, sendo considerada por alguns como uma deusa a quem se dedicavam muitas oferendas[3].

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A partir desse mosaico de instigantes indivíduos - agentes sociais -, algumas questões podem ser levantadas, possibilitando abordagens distintas e novas fontes para rediscutir a Independência do Brasil. Volta-se para o exame do passado, que, por definição, não mais existe e que, portanto, cabe ao historiador reconstituir a partir do lhe restou de mais seguro - suas fontes que se encontram no presente.

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  1. Para o conceito, cf. CANECA, Freio Joaquim do Amor Divino. Dissertações sobre o ... Op. cit.
  2. Cf. FRANÇA, António d’Oliveira Pinto da; CARDOSO, Antônio Monteiro. Cartas baianas: 1821 ... Op. Cit., p. 125-126.
  3. Cf. PINHO, Wanderley. Salões e damas do Segundo Reinado. 3. ed. São Paulo: Martins, 1959, p. 296.