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que as mesmas arvores e as mesmas flôres, que nos despediram, nos dão as boas vindas outra vez. Se alguma mudança ha é nas pessoas.

—Encontrou mudança n'essas?

E Jorge tentou de novo, mas sem melhor resultado, fitar os olhos em Bertha. —Nem podia deixar de ser—tornou esta—para nós não ha estações; as folhas que vão cahindo, não vem primavera renoval-as.

Jorge pôz-se a folhear, com apparente distracção, um livro que encontrou sobre a mesa; e a fronte contrahiu-se-lhe levemente, como se tivesse ouvido alguma coisa que lhe desagradasse.

Bertha continuou fallando-lhe sem constrangimento e olhando-o com a curiosidade que despertava naturalmente no seu espirito de rapariga aquelle caracter serio de rapaz.

Thomé propôz a Jorge principiarem os seus trabalhos.

Bertha despediu-se d'elles, e foi ter com a mãe.

—Então que lhe parece a minha rapariga, snr. Jorge?—perguntou o enlevado Thomé.

Jorge articulou uma pouco intelligivel phrase de louvor.

—Olhe o que é a educação—insistiu Thomé.—Quem ha de dizer que foi nascida e creada aqui, n'este palheiro e no tempo em que elle era ainda um pouco peior do que hoje?!

—Ah! sim… a educação… vale muito, mas é preciso que os dotes naturaes a auxiliem—murmurou Jorge, como se lhe causasse repugnancia o assumpto da conversa.

—Sim; tambem me parece que se a pequena não tivesse quéda… Mas o que ella sabe! o que ella leu! o que ella aprendeu! É d'uma pessoa ficar a ouvil-a uma noite e um dia inteiros, sem querer saber de mais nada!

Um ligeiro sorriso, não de todo despido de ironia, encrespou os labios a Jorge, que nada respondeu d'esta vez. Thomé interpretou o silencio do rapaz como uma