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XI


Pela manhã do dia seguinte recebeu Jorge um recado do pae, para ir fallar-lhe.

Apressou-se em obedecer. Foi encontrar D. Luiz a passeiar no quarto, e manifestamente irritado. Vendo entrar o filho, mostrou-lhe uma carta aberta, que estava em cima da mesa.

— Ah! É da prima? — exclamou Jorge, depois de examinar a assignatura. — Finalmente escreveu!

— Podia dispensar-se de o fazer — resmungou o fidalgo e proseguiu:

— Parece-me que não foste muito feliz na lembrança de bater a essa porta.

— Então?!

— Lê e verás.

Jorge leu, a meia voz, a carta que era concebida n'estes termos:

«Meu bom tio.

Tive, ao voltar a Lisboa de uma visita á Hespanha, a mais agradavel surpreza. Recebi, emfim, uma carta sua! A singularidade do facto não me inhabilitou para sentir no maior grau uma salutar alegria. Cuidava que me tinham esquecido. Convenci-me agora de que felizmente me enganára. Lisongeou-me ainda o vêr que o meu bom tio se dirigia a mim, para me pedir conselho! Claro estava que já não era no seu conceito aquella doidivanas de outros tempos. Ainda bem que me faz um poucochinho de justiça. Não se arrependa; effectivamente hoje estou mais ajuizada. O meu caracter de