Página:Os Fidalgos da Casa Mourisca (I e II).pdf/132

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E continuou a cantar:

D'onde se eleve ás trindades
Um fumosinho cinzento
Que se dissipe nos ares,
Ao menor sôpro do vento.

— Olá! Como se desenvolveu assim em ti esse apêgo ás coisas rusticas? — perguntou Jorge com ironia.

— Que queres tu? Caprichos!

— Caprichos!! mas é que não estamos no caso de os ter. Ai, Mauricio, receio que dês em mau homem de negocios, se a conferencia decidir que o deves ser — continuou Jorge no mesmo tom.

— A Gabriella terá o bom senso necessario para propôr outra solução ao problema da minha vida. Creio...

E Mauricio desceu as escadas, exclamando alegremente:

— Adeus, adeus que vou vêr quem tu sabes.

Jorge contrahiu a fronte ao escutar-lhe as palavras com que se despediu, e conservou-se immovel ainda depois que o perdeu de vista, e já quando o não ouvia, nem o bater das patas do cavallo no lagedo do pateo; a final sacudiu a cabeça, como para livrar-se de uma ideia importuna e murmurou:

— Ora! Tudo isto é natural... Vamos trabalhar!

E foi encerrar-se no quarto.

Mauricio sahiu a cavallo, mas não estendeu por muito longe o seu passeio matutino. Parecia errar ao acaso, mas acaso era esse que por duas vezes o conduzia na via da casa de Thomé.

E de ambas as vezes uma cabeça de mulher apparecia á janella, ao ruido que faziam no caminho as patas do cavallo, o qual Mauricio obrigava a evoluções ao chegar áquelle sitio.

Essa cabeça era a de Bertha. Mauricio saudou-a com um sorriso e dirigiu-lhe algumas palavras de galanteio. Bertha retirou-se para dentro, depois de elle ter passado, dizendo comsigo:

— É uma imprudencia o que estou fazendo. Vamos; é preciso cautela.