Página:Os Fidalgos da Casa Mourisca (I e II).pdf/137

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— Ora ahi o tem; agora olhem-me por esse fôrno, que são horas.

E tornando a Mauricio, continuou, como se não tivesse havido interrupção:

— Pois é verdade, elle foi e ainda não veio. Sabes tu que era esta a mulher que ficava a matar para o meu Clemente?

Mauricio estremeceu, como se ouvira uma heresia.

— Quem? Ella? Bertha?

— Sim; então que achas? Pois com quem queres tu que ella case cá na terra? Fidalgos não a querem; os rapazes por ahi são uns labrêgos que Deus nos acuda. O meu Clemente..., não é agora por ser meu filho, mas não se lhe faz favor nenhum confessando que é mais geitoso do que elles. E sobre tudo, depois d'isto da regedoria. Elle falla com o snr. administrador e até com o governador civil, quando vae ao Porto, e a cada passo está a escrever-lhes e a receber cartas d'elles, e é tudo: Deus guarde a v. s.ª para aqui, Deus guarde a v. exc.ª para acolá. Ora a filha do Thomé vem costumada a estas coisas lá da cidade e emfim, sendo de costume, já se não gosta de passar sem isso.

Mauricio não podia seguir placidamente as conjecturas da ama, parecia-lhe uma profanação o que ouvia.

— Não, não, Anna. Clemente não é marido que convenha a Bertha. De modo nenhum. Desengana-te.

— E porque não? Ora essa é boa! Quem é então que lhe convem? Olh'agora!

— Bertha tem... teve... ha de ter...

— Tem, teve e ha de ter, o quê?...

— Uma educação... gostos...

— Ora viva! Já fazes a filha do Thomé fidalga de mais para o meu rapaz! Ora quem alli está. Olha que eu sou da creação de Thomé, e conheci-o rapazinho de pé descalço, a guardar o gado... Olh'agora!

— Não duvido, Anna, mas... Bertha já viu a cidade e...

— Toma! E o meu Clemente? Ora deixa-te de historias. Sabes que mais?... Não me andes tu já por ahi