— Então a rapariga? — perguntou o padre, examinando as janellas vazias.
— Nem sempre apparece á janella — informou Mauricio.
— E de que meio te serves para chamal-a? tosses, cantas, assobias? — perguntou o doutor. — Qual é o teu systema?
— Eu não tenho systema.
— Então para que nos trouxe por aqui este innocente, não me dirão?
— Tu não tens entrada em casa?
— Meu pae não gosta que nós visitemos o Thomé.
— Ah! lá se o papá ralha...
— Este Mauricio tem coisas!
— Isto é mesmo uma menina innocente!
— Aqui não ha malicia alguma!
Estas observações dos manos estavam causando a Mauricio vergonha da sua propria candura.
— E então d'aqui? — interpellou o doutor.
— Então... — titubeou Mauricio.
— Segue-se dar meia volta á direita, e retirarmo-nos com caras de asnos, não é assim?
— Façam vocês o que quizerem — exclamou o padre — eu por mim, já que aqui estou, não me retiro sem vêr a pequena.
— Mas como? — interrogou Mauricio.
— Eu te digo já. A coisa é simples.
E dizendo, dirigiu-se a uma pequena porta que havia no muro da quinta e, sem a menor hesitação, impelliu-a com força e ella cedeu sem grande resistencia. O padre entrou primeiro, seguiu-o o mano doutor, e Mauricio, ainda que mais a mêdo, imitou-os.
Os do Cruzeiro caminhavam com a sem-ceremonia, que caracterisava todos os seus actos n'aquella terra, assobiando, cortando flores e fructas, e encurtando caminho por cima dos campos semeados.
De repente o padre, que ia adiante, parou, e voltando-se, disse em tom mais baixo:
— E ainda dirão que não sou bom caçador?
E, afastando-se para o lado, deixou-os vêr o objecto