Página:Os Fidalgos da Casa Mourisca (I e II).pdf/154

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entramos, como rapazes de escóla, sem pedir licença ao dono da casa; mas confiamos que não se nos leve a mal...

— Ora essa! Levar a mal porquê? V. exc.as quizeram talvez vêr por seus proprios olhos como esta abençoada terra, que d'antes se definhava nas mãos de um fidalgo, medra agora nas mãos de um lavrador?

— Justamente. E depois tivemos a felicidade de encontrar a menina Bertha, que é a maravilha d'estes sitios.

— Ah! — disse Thomé, com um meio sorriso, e voltando-se para a filha, que instinctivamente se aproximou d'elle:

— É verdade. Agora me lembra! Olha que tua mãe recebeu já aquellas meiadas. Se queres ir vêl-as.

— Vou, vou já — respondeu Bertha.

E cortejando levemente os tres rapazes, afastou-se d'alli.

— Até outra vez, Bertha — disse Mauricio, com voz affectuosa.

— Snr. Mauricio — correspondeu-lhe Bertha, e desappareceu por uma rua da quinta.

E pensava comsigo mesma:

— Agora... agora... já não sinto mêdo d'elle... nem de mim.

— Na verdade, Thomé, a sua casa está um perfeito paraizo e nem os anjos lhe faltam — disse o mano bacharel, depois que Bertha se retirou.

— O que eu posso affirmar — insinuou o abbade — é que não faltarão tambem em volta d'estes muros enxames de namorados. Que te parece, Mauricio?

— Bertha é digna de todos os respeitos — murmurou Mauricio, confuso.

— Bem, bem, quem diz menos d'isso? mas...

Thomé interrompeu o padre.

— Eu lhes digo, meus senhores, Bertha é filha de uma familia, em que todos trabalham, e pouco tempo póde ter para apparecer a namorados. Quando algum homem de bem se me affeiçoar á filha, não serei eu que lh'a recuse, se o coração d'ella estiver para esse lado; pois para freira a não quero. Emquanto aos enfeitados,