Página:Os Fidalgos da Casa Mourisca (I e II).pdf/156

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dentro, e por um triz que não deixava o homem a pernear.

Os rapazes estavam já fóra da porta quando Thomé acabou de contar o caso, e acrescentou:

— Não que se tractava de meu filho, e isto de amor de pae e de mãe... É como nos animaes. Sabem aquella vacca malhada que eu tenho? Um borrego, com que uma criança brinca; pois haviam de vêl-a uma vez em que lhe tiraram a cria! Estava furiosa e arremettia como um toiro bravo. É preciso cuidado com isto de paes e de mães! — concluiu o fazendeiro, em tom sentencioso e emphatico.

E dando as boas tardes aos tres rapazes, fechou a porta, murmurando:

— O padre ainda não aprendeu com a corrida que levou da abbadia. E este Mauricio a acompanhar com elles! Valha-o Deus!

— Então que vos parece o snr. Thomé? — perguntou o bacharel cá fóra.

— Não está mau com a historia da vacca — disse o abbade, rindo.

Mauricio conservou-se silencioso.

— Tu a modo que vaes assim embaçado, ó Mauricio? — observou o bacharel.

— Estou arrependido de vos ter trazido commigo aqui — confessou Mauricio.

— Ora não sejas parvo! querias talvez que fizessemos muito gasto de excellencias com a filha do Thomé da Povoa?

— É uma rapariga de educação, e o pae... — ia a dizer Mauricio.

— E o pae — atalhou o padre — anda-me chiando muito alto, mas bom será que tenha mais cuidadinho comsigo.

— As ultimas palavras d'elle cheiraram-me a uma ameaça — observou o doutor.

— Eu nem dei por isso — respondeu o mano.

E os tres retiraram-se de mau humor.