Jorge, que ultimamente era menos assiduo em Casa de Thomé, sem que este pudesse atinar com a razão do facto, recebeu, na tarde d'aquelle mesmo dia, um bilhete do fazendeiro, pedindo-lhe que o procurasse na Herdade ás horas do costume. Jorge não faltou.
Thomé da Povoa recebeu-o com modos menos desenleiados do que os que lhe eram habituaes, e com ares de mysteriosa preoccupação conduziu-o a um gabinete mais retirado da casa, serrando a porta depois que entraram, com excepcional cuidado.
Jorge seguia-lhe com estranheza os movimentos.
Thomé, com um gesto denunciador do esforço que n'aquelle movimento fazia sobre si proprio, entrou no assumpto com visivel repugnancia:
— Snr. Jorge — principiou elle — sei que é meu amigo, e que tem o juizo e a prudencia de um homem feito, apesar de novo como é; por isso vou fallar-lhe com a franqueza de um homem de bem e de um amigo.
— Nem o Thomé sabe conversar de outra maneira. Diga.
— Pois bem. A coisa é esta... Eu antes queria não fallar n'isto, mas... emfim... se o negocio ha de ir a mais... e succeder por ahi alguma desgraça... emfim... a tempo é que é evitar o mal; quanto ao depois...
— Mas de que se tracta?
— Snr. Jorge. É um pae que lhe falla. Tenho uma filha e emfim preciso de vigiar por ella, emquanto não tem marido que a zele e proteja... não é verdade?