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crição. Aspiraria assim n'esses instantes todo o suave e delicado perfume do amor. Que o mundo, ao vêr-me frio e concentrado, pensasse: «Ahi está um homem de gêlo, este não sabe amar», e que ella só pudesse dizer: «Oh! eu é que sei de que extremos é capaz aquelle amor que ninguem suspeita.»

Mauricio estava maravilhado de ouvir Jorge, que parecia dominado por uma excitação nervosa, ao fallar assim, mais para si do que para o irmão.

Taes expansões eram raras em Jorge e esta era a mais vehemente e completa que o irmão presenciára.

— É singular! — notou Mauricio — N'esta vida tropeça-se a cada passo em uma maravilha. Quem te ouvisse agora não acreditaria que és aquelle rapaz serio, para quem as raparigas nem se atrevem a lançar um olhar furtivo, porque nunca uma phrase de galanteio ou um sorriso as animou a tanto. Estou admirado! e quasi me convenço de que a final sou apenas um simples curioso na arte de amar, cuja metaphysica transcendente tu professas como verdadeiro mestre. A minha sensibilidade é menos exigente, mas por essa mesma razão admiro a suprema delicadeza da tua!

Jorge como que voltou a si e estranhou a exaltação de que se deixára possuir. Rindo e fallando já em tom natural tentou attenuar a impressão produzida, e disse para o irmão:

— A lua tem decididamente uma influencia poderosa até nos animos mais fleugmaticos. Ahi está que querendo eu fallar-te de coisas serias, esqueci-me em uma divagação sentimental, que Deus sabe até onde me levaria. Deixemos isto. Vaes prometter-me, Mauricio, que desestirás de inquietar Bertha e tranquillisarás o espirito a Thomé!

— Ora que ridicula promessa exiges tu de mim! Deixa-me vêr de quando em quando aquella rapariga, que eu te afianço que não corre perigo algum com isso. Quanto mais que eu não posso assegurar que ella de facto me corresponda.

— Não anticipes juizos sobre o effeito incalculavel que póde produzir no espirito d'aquella rapariga a assi-