Página:Os Fidalgos da Casa Mourisca (I e II).pdf/173

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— ... Emprestadas.

— Oh! por certo; e eu reconheço melhor a tua fidalguia, Jorge, na franqueza d'esta recepção, do que na libré dos teus criados e nos brazões dos reposteiros.

E conversando familiarmente com o primo, a quem tomára o braço, a baroneza subiu os degraus da escadaria, que subia para a sala nobre.

Á porta encontraram-se com frei Januario, que voltava azafamado da cozinha, aonde tinha ido dar ordens accommodadas á solemnidade do caso e ás impaciencias e appetite do proprio estomago.

O padre limpava ainda os labios ao lenço, para fazer desapparecer os vestigios de uma libação extra-official que de passagem fizera.

— Queira v. exc.ª perdoar, snr.ª baroneza, o apparecer-lhe ainda agora, mas as obrigações do meu cargo...

— Ó snr. frei Januario, por quem é, lembre-se de que somos conhecidos antigos, e que até por vezes lhe dei motivos para me abjurar como jacobina. Tinha que vêr se me preparava a honra de uma felicitação em fórma. Onde está meu tio?

— O fidalgo não estava prevenido de que v. exc.ª chegava tão cedo, e por isso ainda está recolhido no seu quarto, mas eu vou...

— Ai, não, não; por amor de Deus não o acorde!

— Não; elle está já a pé; mas emfim fazer a barba e tal... sempre leva alguns minutos.

— Que se não apresse por minha causa. Eu illudirei a grande vontade que tenho de lhe beijar a mão, conversando com o primo Jorge.

— Então, se v. exc.ª me dá licença...

— Até logo, frei Januario.

E quando este ia longe, acrescentou:

— Ó snr. frei Januario, aquelle grande dia que estava já para chegar na ultima vez que nos vimos, aquelle dia de redempção, ao que parece não chegou ainda?

O ex-frade encolheu os hombros, e respondeu com ar de mysterio:

— Ainda não é tarde, minha senhora. Pouco viverá quem não o vir.