Página:Os Fidalgos da Casa Mourisca (I e II).pdf/186

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ricio, puxando para o meio da sala a mais desoccupada e limpa cadeira que encontrou, e pondo-se ás cavalleiras n'ella. — Ao meio-dia!

— Isso! Vem para cá fallar da vida de vadios. Olha se me convences de que te afadigas muito a trabalhar.

— Em todo o caso já vim de minha casa até aqui e tu, ao que parece, ias no meio de um somno e lá o padre então... esse vae, pelo que estou vendo, no principio d'outro.

— Mas como diabo te deu para vires por aqui tão cêdo?

— Cêdo? Olha que é meio-dia! Mas... vim encarregado de uma missão.

— De quem?

— De meu pae.

— De teu pae?! Para nós?!

— É verdade. Estou incumbido de vos convidar a todos tres para jantar ámanhã.

O padre deu uma volta na cama, ao ouvir este convite e fitando Mauricio com olhos espantados, ainda que mal abertos, exclamou com voz rouca de somno:

— O tio Luiz dá ámanhã um jantar?!

— Sim, senhor. Em obsequio á Gabriella, a baronezinha de Souto-Real, que lá está desde hontem de manhã.

— Ora essa! — acrescentou o padre, e tornou a voltar-se para a parede.

— Bravo! — applaudiu o doutor — isso já me cheira melhor do que a tal historia do Jorge feito guarda-livros. Aquelle Jorge com'assim ha de ser sempre d'essas ratices. E dize-me cá: que tal está agora a Gabriella?

— Não me pareceu mal; ainda que, para te fallar a verdade, não lhe dei muita attenção.

— Sim, tu andas agora distrahido com a...

N'este ponto interrompeu-se subitamente, e dando uma palmada no travesseiro, a qual lhe fez cahir na cama a cinza inflammada do cigarro que principiou nos lençoes uma centesima combustão, exclamou:

— É verdade! que me ia esquecendo? fizemos uma grande descoberta esta noite, homem!