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Frei Januario tinha meditado maduramente a ordem de collocação dos diversos convivas, segundo as regras da etiqueta em que elle era mestre. E como n'este ponto ninguem lhe contrariasse os planos, havia-se sahido muito á sua vontade da tarefa.

Assumindo pois as funcções de mestre de ceremonias, começou a designar a cada convidado o logar que lhe competia.

Infelizmente, porém, nem todos foram doceis ás indicações do padre, e sobre tudo os rapazes que, sem lhe darem attenção, iam sentar-se onde muito bem queriam, e ao pé quasi sempre de alguma prima, que não desgostava da visinhança.

Isto transtornou completamente os estudos do padre, que tivera mais que tudo era vista a separação dos sexos e das idades; mas debalde protestou contra a anarchia que invadira a mesa.

Quem, porém, acabou por o perturbar foi D. Luiz, quando do alto da mesa e com a hospitaleira cordialidade, que conseguiu affectar, exclamou:

— Queiram sentar-se á vontade. É bom que os velhos se misturem com os moços para temperar os ardores da juventude com a prudencia dos annos. Outras desigualdades não ha aqui a attender.

Esta ultima parte fez torcer o nariz a um ou outro fidalgo que tinha motivos para se suppôr mais preclaro do que os primos, mas não houve protesto formulado, e todos obedeceram ao convite do dono da casa.

O padre esteve em risco de perder o appetite.

Valeu-lhe porém a judiciosa reflexão que lhe fez ao ouvido o collega, dizendo:

— Sentemo-nos, que bom logar é todo aquelle onde se come bem.

Jorge ficou aos pés da mesa e portanto fronteiro ao pae.

Os primos do Cruzeiro, um de cada lado da mesa e perto da cabeceira, continuavam a sorrir provocadoramente e a fazer rir os outros.

Ao passar perto de Jorge, para tomar logar, a baroneza murmurou-lhe: