Página:Os Fidalgos da Casa Mourisca (I e II).pdf/219

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ça que se vê a dormir á beira de um precipicio. Inspiras-me, como ella, apenas sustos, e não cólera nem aversão.

E os dois rapazes abraçaram-se com effusão.

— Vamos — disse a baroneza, intervindo — a situação precisa de que se pense n'ella seriamente. As pazes estão feitas, em boa hora; pensemos agora como gente de juizo.

— Antes de mais nada, Jorge, o que ha de verdade em tudo isto?

— O que eu disse.

— Vê bem; falla-me com franqueza. Eu não acreditei no que de ti se espalhou. Concederia que Jorge podésse praticar uma loucura, mas uma acção indigna, um abuso de confiança, sabia que não. Porém não ha em toda esta historia alguma coisa que não disseste ainda? Bertha é para ti completamente indifferente? Esta é que é a questão.

Só a muito custo Jorge pôde disfarçar a turbação em que a pergunta de Gabriella o lançou, mas respondeu com apparente serenidade:


— Bertha é uma rapariga, que por todos os motivos respeito.

E com mais custo ainda, acrescentou:

— E nada mais.

— E para Mauricio o que é Bertha? — continuou a baroneza, sorrindo ao voltar-se para o primo mais novo.

Não obteve logo resposta.

— Bem vêem — insistiu ella — que ha uma coisa que eu não posso ainda explicar. Assisti á vossa reconciliação, signal de que tinha havido uma desintelligencia. Qual foi pois o motivo d'ella?

— Uma das minhas loucuras — respondeu Mauricio a final — cedi a um movimento de paixão, encontrando-me com Jorge hontem, quando elle sahia da casa de Thomé da Povoa, e soltei expressões, que parece que ainda me estão queimando os labios.

— Então, visto isso, achavas-te com direito de sentir ciumes. Segue-se que amas Bertha. E é devéras esse amor?