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porém não sossobrou na lucta. D. Luiz fechou discretamente a porta para si; depois com fervorosa commoção beijou quasi um por um esses differentes objectos, e ao chegar junto do leito, o mesmo em que a vira adormecer do ultimo somno, ajoelhou soluçando, e cobriu de beijos e de lagrimas as almofadas onde tantas vezes se encostára a pallida cabeça da sua Beatriz.

Mais tranquillo depois d'esta effusão de dôr, ergueu-se, enxugou os olhos e desceu com a mesma lentidão as escadas até o portal, onde o padre o esperava já com impaciencia e inquieto pelo adiantado da hora.

Um criado segurava pela redea os cavallos, que deviam transportal-os.

— Vamos, vamos, snr. D. Luiz, olhe que nos apanha a noite na estrada e os caminhos não são lá essas coisas — exclamou o padre afflicto.

D. Luiz, em vez de responder-lhe, disse para o criado que segurava os cavallos:

— Vae esperar-nos na baixa do Paul. Nós já lá vamos ter.

— Então v. exc.ª quer ir a pé até á baixa do Paul?! — perguntou o padre assustado.

— Vou?

— Mas... é um estirão e....

— Então que fazes? Parte — disse D. Luiz com impaciencia para o criado, e este obedeceu-lhe promptamente.

O padre ficou a resmonear:

— Eu cada vez ando mais ás aranhas com a gente d'esta casa. Sempre tenho visto e ouvido coisas ha tempos a esta parte! Olhem que preparos estes! Havemos de ceiar a boas horas, não tem duvida nenhuma!

— Agora feche a porta, frei Januario — ordenou D. Luiz.

O padre tomou com ambas as mãos a enorme chave do portão, e fêl-a girar na fechadura.

Este movimento produziu um som agudo, similhante ao gemido de uma ave, o qual resoou tristemente pelo interior d'aquella casa deserta.

O padre tirou a chave, que juntou ao mólho que tra-