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ca para as prêsas, conduzido por crianças de seis e sete annos. Nos arvoredos ouvia-se um cantar de aves, timido como elle é, ao aproximar do outomno e ao aproximar da noite. Era tal a serenidade da tarde, que se percebia o sino de uma freguezia distante, dobrando a finados.

A suave melancolia d'aquella hora influiu no animo de D. Luiz. Que densidade de tristeza a que poisou n'aquelle coração! Saudades, mas saudades escuras de velhice, saudades de quem não tem futuro, era o que havia n'aquella alma. Com o passado lhe tinham ido todos os objectos das suas crenças, do seu amor, das suas affeições. Já não era capaz de enthusiasmo, e os olhos em que o enthusiasmo não influe, vêem tristemente coloridas todas as scenas da vida. Ao desencantamento do presente juntavam-se as apprehensões pelo futuro a entenebrecer-lhe o espirito. Era devéras infeliz aquelle velho!

Depois da ponte seguia-se a collina, onde prosperava a Herdade de Thomé.

D. Luiz reuniu alento para subil-a.

O padre aventurou outra observação:

— Snr. D. Luiz, eu não atino com as razões que trazem v. exc.ª aqui, mas não vejo que possa resultar bem algum de similhante visita. Veja o que faz! A prudencia...

— Socegue, frei Januario — atalhou D. Luiz com um sorriso amargo. — Não imagine que venho praticar alguma violencia. Já lá vae o tempo em que nós resolvíamos á força de braço os nossos pleitos. A nossa vez passou, bem vê.

O padre conheceu pelo tom da resposta que o fidalgo estava já mais quebrado, mas ainda pouco disposto para explicar-se.

Para se chegar á casa de Thomé da Povoa por o lado por onde D. Luiz seguia, tinha-se de tomar por uma avenida de olmeiros, orlada por sebes naturaes formadas de madresilvas e de rozeiras. No fim d'esta avenida ficava uma das entradas da quinta do fazendeiro, era a parte que elle cedêra ás predilecções da filha e da