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fidalgo — O snr. D. Luiz! Até que emfim o vejo! Julguei que não chegava este dia!

E pegando-lhe na mão, beijou-a com respeito e affecto.

E D. Luiz não lh'a retirou, nem teve uma palavra que lhe dissesse. Continuava a olhal-a, como esquecido de tudo e profundamente perturbado.

O padre observava a scena boquiaberto.

— Ha que tempos o não via! — proseguiu Bertha com uma carinhosa volubilidade de criança — Pois tinha bem saudades! Quantas vezes olhava para aquellas janellas, a vêr se por acaso o descobria em alguma? Mas nunca, nunca! Que vontade que tinha de lá ir, mas... Disseram-nae que o padrinho nunca sahia, e que vivia quasi sempre só no seu quarto. Para que é que vive assim? Isso faz-lhe mal. Mas... que tem, snr. D. Luiz? Meu Deus... está a chorar!

O padre deu um passo á frente, como duvidando do que ouvira.

D. Luiz afastou-o com a mão.

— É verdade — disse elle a final, profundamente commovido. — É singular isto em mim! Mas que quer, Bertha? Quando aqui cheguei e a vi...

— Não me tracta já por tu? — interrompeu-o Bertha, sorrindo tristemente.

O fidalgo, depois de uma curta hesitação, repetiu:

— Quando aqui cheguei e te vi, lembrei-me da minha pobre Beatriz. Parecias-me ella. Ella era mais moça quando morreu, mas ultimamente tinha deitado corpo e... depois trazia ás vezes um vestido d'essa côr, e emfim... ha tanto tempo que não via uma rapariga que se lhe assimilhasse... Sim, porque ha muitas por ahi, mas nenhuma ainda m'a recordou como tu. É notável! a mesma côr de cabello, a mesma estatura, certas maneiras e até o metal de voz... Não é verdade, frei Januario? É notavel! A minha pobre filha! Como tu m'a recordas, Bertha, ai, como tu m'a recordas!

— Não se afflija.

— «Não se afflija» era mesmo assim que ella me dizia; não que era mesmo assim. Pois não era, frei Ja-