Página:Os Fidalgos da Casa Mourisca (I e II).pdf/236

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— Como se explica então que, sendo elle tão teu amigo, se irritasse por uma errada interpretação dos teus actos, a ponto de estar imminente uma acção tragica, de que nem quero lembrar-me?

— Ora essa! Então não conhece o genio de Mauricio? — tornou Jorge quasi impaciente — Os primeiros movimentos são n'elle sempre impetuosos. Aquelle rapaz não se conhece. A cada instante se engana comsigo proprio. Anda persuadido ha certo tempo de que ama Bertha, e essa persuasão é tal que dá logar a scenas como essa que sabe.

— E porque dizes que não a ama?

— Porque o conheço e porque o tenho visto amar assim muitas mulheres.

— Uma serie de amores verdadeiros, é o que se conclue d'ahi; verdadeiros, mas curtos.

Jorge sorriu.

— Parece-me que não acreditas que sejam verdadeiros os que são curtos? Tu amarias sempre, se amasses?


— Creio que sim. Ou pelo menos, quando visse acabar um amor, dizia commigo: enganei-me, não era amor ainda.

— Sympathica theoria, mas não sei se muito aceitavel. Porém quem te diz que Mauricio não se fixaria d'esta vez? E olha que não seria uma má resolução da vossa crise. O Thomé julgo que está em condições de ser um sogro salvador, assim não houvesse a prevenção do tio Luiz.

— D'essa maneira não quereria eu nunca regenerar a nossa casa — replicou Jorge gravemente.


— Ah! tambem tens d'esses escrupulos? Pois olha, filho, é o processo hoje mais seguido.

— Bem sei, mas em um homem acho-o ignobil.

— Não havendo amor, concordo; mas quando o amor absolve a alma...

— Mais honra haveria em vencêl-o.

— Esta provincia é um terreno onde as velhas plantas duram eternamente. Não ha vento revolucionario, nem corrente de ideias novas que as derrubem.