Página:Os Fidalgos da Casa Mourisca (I e II).pdf/238

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— O snr. D. Luiz chamou-me ha poucos momentos ao seu quarto para me dizer... para me ordenar....

— O quê?

— Para me confiar de novo a procuração que me retirára, e ordenar-me que participasse isto mesmo ao snr. Jorge para seu governo. Emfim....

— Cumpra-se a vontade de meu pae — disse Jorge — e Deus permitia que elle tenha motivos para se applaudir por ella.

— Eu fazia melhor conceito do bom senso do tio Luiz — observou francamente a baroneza — confesso que fazia. E o snr. frei Januario acha-se com forças de desenredar esta meiada, embaraçada como está?

— Pois ahi é que bate o ponto — acudiu o egresso. — Eu... é verdade que por mais de vinte annos dirigi estas coisas e, se mais não fiz, foi porque os tempos eram o que nós todos sabemos. Mas, depois que o snr. Jorge tomou conta disto, perdi o fio da meiada, entende v. exc.ª? Eu tinha cá o meu systema e por elle me guiava. Agora porém venho encontrar as coisas todas mudadas e... emfim, póde ser que estejam muito bem, não digo menos d'isso, mas eu é que não as entendo. Para pôr tudo outra vez no pé de d'antes, isso leva um tempo dos meus peccados; para continuar no caminho em que isto vae, era preciso ter muito trabalho e a fallar a verdade, já não estou na idade d'isso.

— E então que tenciona fazer?

— Eu sei? O fidalgo não ha quem o convença. Credo! Vão lá hoje contrarial-o na mais pequena coisa! Vae tudo pelos ares! Por isso, a mim lembrava-me....

— O que lhe lembra, snr. frei Januário? — perguntou Gabriella, fitando-o com olhar penetrante.

— Lembrava-me dizer ao fidalgo que sim senhor, que tudo se havia de fazer como elle mandava, que eu me encarregaria da direcção da casa, mas, por baixo de mão, continuar o snr. Jorge a levar as coisas lá pelo seu systema.

— E quer tomar sobre si a responsabilidade dos meus actos, snr. frei Januario? Repare bem. Já sabe a que portas costumo ir bater, quando preciso de capital,