Página:Os Fidalgos da Casa Mourisca (I e II).pdf/254

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desfeitear-me e eu calar-me envergonhado? Enganou-se. Enganou-se. Enganou-se. Apre! Eu também tenho vontade. Ha de vêr com quem se metteu. Ainda que o fidalgo quizesse agora dar cabo do que lhe resta, eu lhe juro que não o conseguiria. Fica por minha conta a empreza de pôr no pé em que esteve a sua casa e a sua propriedade. Ora aqui está. Agora queixe-se, insulte-me, desfeiteie-me á vontade; ande, não tenha escrupulos. A minha tenção está formada. Não quero saber se o seu orgulho se offende, ou se se não offende. Se se offender, tanto melhor, que d'elle tambem é que eu recebi offensa. Apre! Cuidam que nós não temos brio nem pundonor? É só affrontar-nos como se não fossemos capazes de sentir? Sim? Elle é isso? Pois nós veremos. Ora deixa estar que eu lhes direi como as coisas correm. Quer que eu lhe fique com as chaves, não quer? Pois não, com muito gosto. Olhe, cá as levo. Vê? Passe muito bem v. exc.ª, passe muito bem. Eu lhe prometto que ha de ter noticias minhas. Ora é boa! A paciencia esgota-se. A gente tambem tem cá uma medida de soffrer; cheia ella, acabou-se, vae tudo por ahi fóra. Adeus, fidalgo, eu lhe protesto de novo que lhe hei de fazer todo o bem que podér.

E Thomé da Povoa, inflammado n'aquelle ardente desejo de sancta e honrada vingança, sahiu da sala, resmoneando ainda:

— Estes fidalgos que cuidam que a outra gente não sente! Ora deixa que já que elle tanto se espinha com o bem que lhe faço, eu o flagellarei. Vou tomar mais a peito a casa d'elle do que a minha, e se eu não conseguir o que quero... Ora deixa estar! Apre! Que é demais!

D. Luiz ficou ainda mais triste e pensativo depois que Thomé se retirou.

A seu pezar a entrevista com o fazendeiro impressionára-o profundamente.

O honesto caracter do pae de Bertha transparecia tão claro sob a franca rudeza da sua linguagem!

A unica vingança concebida por aquelle velho, no auge de indignação contra a humilhadora aristocracia do