— Qual no ar; prometti que hei de trabalhar para pôr aquella casa em cima, só para fazer uma pirraça ao fidalgo; e ainda que tenha de hypothecar todos os meus bens e de arriscar o futuro dos meus filhos, hei de fazêl-o.
— Mas, já fallaste com o snr. Jorge a esse respeito?
— Não, nem preciso.
— Pois devias fallar. É um rapaz ajuizado e que põe as coisas no seu logar.
— O que elle me vinha dizer sei eu, e por isso é que não desejo fallar-lhe, porque não quero que me tire isto da cabeça, nem quero brigar com elle. Mas os rapazes já estão á minha espera. Vamos lá. Dá cá as chaves, ouviste?
— Thomé, Thomé! Olha lá o que fazes! Eu não sei...
— Pois por isso; se não sabes, deixa-me cá. Basta-me a chave grande. Eu hoje não passo da quinta.
E pegando na chave que a mulher lhe deu a medo, o lavrador sahiu á frente dos tres criados, em direcção da Casa Mourisca.
Luiza, a cujo bom senso não agradava a resolução do marido, veio desabafar com a filha.
O que sobre tudo levava a mal a bondosa Luiza era o não haver o marido consultado Jorge. Para Luiza Jorge era um conselheiro infallivel. A sympathia que sempre lhe inspirára aquella criança, «que se não mettia com ninguem» como a boa mulher tantas vezes dizia, crescêra e misturára-se á admiração, ao respeito e á absoluta confiança, assim que o viu, adolescente, tomar aos hombros o pesado encargo da direcção e reforma da sua casa, e que ouviu os louvores em que o enthusiasmo de Thomé se desafogava, fallando d'elle. Luiza afez-se a suppôl-o um ente privilegiado, incapaz de errar, com faculdades creadas para levar ao fim qualquer empreza e realisar todas as suas tenções, por menos exequiveis que parecessem.
O dogma da infallibilidade de Jorge fôra por ella definido.
Transpirára além d'isso cá fóra o grande successo do dia do jantar na Casa Mourisca, e por ventura a ver-