Página:Os Fidalgos da Casa Mourisca (I e II).pdf/264

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— Isso só elle sabe e Deus. Mal almoçou foi para lá com tres criados. Diz elle que já que o fidalgo teima em lhe pôr as chaves em casa e que todo se espinhou por elle lhe querer ser prestavel, vae fazer o bem que podér a sua familia, e melhorar a quinta e a Casa Mourisca, e que ainda que tenha de empenhar os seus teres e os dos filhos, se ha de vingar do fidalgo, fazendo-lhe todo o bem que estiver na sua mão. E tirem-lhe lá isso da cabeça!

— É uma alma generosa a de Thomé, mas eu o dissuadirei d'essa vingança, que viria transtornar os meus planos e tirar-me a gloria, a que aspiro, de trabalhar por minhas proprias mãos n'essa obra de restauração.

— Eu não o disse? «Thomé tu não faças nada sem fallares com o snr. Jorge.» Mas qual! Bem lhe importava elle com o que eu prégava! É um bom-serás o meu Thomé. Em vinte annos de casada, nunca me deu um desgosto. Póde haver maridos tão bons como elle, melhores não posso crêr que haja. Devo dizer o que é verdade. Mas, lá de quando em quando, em se lhe mettendo umas scismas na cabeça! adeus, minhas encommendas! já se lhe não dá volta. Só o snr. Jorge. Elle lá ao snr. Jorge ainda cede. E o que elle lhe não fizer escusam ahi de vir os poderes do mundo, que nada fazem. Lá o snr. Jorge! credo! Isso basta ouvil-o fallar em si. Ora, não é agora por estar presente, mas razão tem elle para fazer o que faz.

— Obrigado, snr.ª Luiza.

— Obrigado por quê? Ó filho, não, a minha bôca não é para gabar quem não o merece. Mas, diga-me cá, que rapaz ha ahi que faça o que o menino faz? Que na sua idade, em que emfim todos sabemos que o que se quer é brincar, olha como um homem por a sua casa, como nem muitos velhos sabem. E depois, ó snr. Jorge, sempre lhe digo que ainda ha bem poucos dias estes olhos choraram bastantes lagrimas por sua causa.

— Por minha causa?! Pois eu fil-a chorar, snr.ª Luiza?

— Oh! não foi por mal que me fizesse, foi porque emfim ... ha certas acções, que bolem cá dentro com