Página:Os Fidalgos da Casa Mourisca (I e II).pdf/266

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Igualmente enleiado, Jorge procurou mudar o sentido da conversa, fallando outra vez de Thomé, em procura do qual sahiu poucos minutos depois.

Assim que o viu deixar a sala, Luiza ficou pensativa por algum tempo e no fim disse em voz alta, como era costume seu:

— Deixal-os. Se assim fosse, tanto melhor. Coisas mais incríveis se teem visto. Seja o que Deus quizer!

Ao passar no patamar das escadas que davam para o quinteiro, Jorge encontrou alli Bertha, que parecia esperal-o. Cortejando-a, procurou nos olhos d'ella o vestigio de lagrimas.

— Snr. Jorge — disse-lhe Bertha, com voz triste e levemente tremula — perdoe-me a minha perturbação de ha pouco. Fui obrigada a sahir da sala sem lhe dizer nem uma simples palavra de agradecimento por o muito que lhe devia; mas creia que não é porque o desconheça.

— O que me deve! Então quer que lhe repita o que já lá dentro lhe disse? Eu sou que tenho a pedir perdão.


— Basta, snr. Jorge — atalhou Bertha, tentando sorrir, mas raiando-lhe o sorriso por entre mal contidas lagrimas, como o sol no meio da chuva do inverno. — Hoje não... mas... em outro dia... ha de dizer-me por que não é meu amigo.

Jorge estremeceu, e olhando para ella repetiu:

— Por que não sou seu amigo?! Que quer dizer, Bertha?

— Oh! creia que ha signaes, que não enganam. Seja o que fôr, mas no seu pensamento ha alguma coisa contra mim, snr. Jorge. É pouco dissimulado, bem vê, não o póde disfarçar.

— Bertha! mas que criancice! Pois que ha de haver contra si no meu pensamento?

— Não sei. Um dia m'o dirá; não é verdade? É muito leal e muito generoso para não m'o dizer. Bem vê que preciso sabêl-o para me emendar; porque... eu desejava que fosse meu amigo, snr. Jorge. Todos o res-