Página:Os Fidalgos da Casa Mourisca (I e II).pdf/276

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cidamente de Jorge e de D. Luiz, e da proxima jornada á cidade, quando Luiza, depois de uma pausa na conversa, disse ex-abrupto para o marido:

— Ó Thomé, e que dirias tu, se um dia a tua filha morasse n'aquella casa?

E, ao dizer isto, designava com a cabeça a Casa Mourisca.

Thomé olhou para a mulher, como se aquellas palavras lhe fizessem duvidar da firmeza do juizo d'ella.

— Que queres tu dizer com isso?

— Ora! isto de rapazes e raparigas... quando se vêem a miudo...

Thomé córou, exclamando com mau modo:

— Tu estás doida, Luiza?

— Ora adeus! Quem sabe lá?

— Ó mulher, não queiras que eu perca a confiança que sempre tive no teu bom juizo.

— Eu não digo... mas emfim...

— Ora adeus, adeus! — atalhou Thomé, quasi agastado — ha certas coisas que nem a brincar se dizem.

— Pois que mal havia?...

— Mau! Ó Luiza, peço-te por favor que te não ponhas com essas graças. Ora para o que te havia de dar!

— Então, porquê?...

— Ora, porque não. Ha certas lembranças que até me envergonho de pensar n'ellas.

Luiza, em vista da repugnancia do marido, não ousou insistir. Mas a pobre mulher, com as ambições de mãe, já não podia deixar de olhar a Casa Mourisca e imaginar o effeito que produziria a sua Bertha em uma das balaustradas ou das ogivas d'aquelle antigo edificio.