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fazer sem uma affectação mais indiscreta do que a propria entrevista.

Em poucos momentos Mauricio estava a seu lado.

— Até que finalmente a encontro, Bertha. Quasi me tinha chegado a convencer de que uma fatalidade ou um proposito nos separava. Ha tanto tempo que não conseguia vêl-a!

— E procurava-me, snr. Maurício?

— Todos os dias o tenho feito.

— O mais natural era procurar-me em casa; ahi é que passo a maior parte do meu tempo, auxiliando minha mãe, que bem precisa de quem a ajude.

— Em casa? E seria eu bem recebido lá?

— Já alguma vez meu pae deixaria de receber, como merecem ser recebidos, os filhos do snr. D. Luiz?

— Como merecem — ahi é que está a dificuldade. E se a consciencia me dissesse que eu não merecia esse bom acolhimento?

— Muito grandes deviam ser as suas culpas, para que meu pae se esquecesse da amizade que lhes deve, a si e aos seus, snr. Mauricio. Creio bem que a consciencia não lhe diz isso.

— Não, Bertha. Eu julgo-me com imparcialidade. Sei o que ha de reprehensivel no meu proceder inconsiderado; ainda que nada me peza na consciencia, emquanto ás minhas intenções.

— É o essencial.

— Não é para os outros. Por os actos me julgam e esses ás vezes condemnam-me.

— Nem todos os seus actos hão de ser maus. Os bons desfarão os effeitos dos outros — tornou-lhe Bertha, sorrindo.

— Succederá isso comsigo, Bertha? Não estarei ainda condemnado no seu conceito?

— Se principio por ignorar as culpas de que é accusado!

Maurício calou-se por algum tempo, como concentrando alentos para mais difficil resolução, e rompeu depois com maior vivacidade: