— Eu disse: eu não posso amal-o, e não: eu não devo amal-o, como n'esse caso diria.
— E porque não póde? Que ha na sua alma contra mim, Bertha, que nem as recordações da infancia me valem? E comtudo eu tinha n'esse tempo adquirido direitos á sua affeição.
— Que valor que dá aos brinquedos da infancia!
— É porque em mim a juventude do coração principiou cêdo. Eu já então sabia amar.
— Mau é que não ache differenca entre o amor de que é capaz agora e o de então; é pois claro que ama como uma criança.
— Com a ingenuidade d'ellas.
— E com a inconstancia tambem.
— Bertha, não me falle assim. Nas suas palavras sinto um tom de duvida que me afflige. Responda-me: porque é que não póde amar-me? Ha já no seu coração outro amor?
Bertha córou e não foi superior a certa confusão, que se esforçou por vencer, dizendo:
— Ainda que não haja, não é isso motivo para o abrir ao primeiro que appareça. Com toda a sinceridade da minha alma lhe fallo, snr. Mauricio. Creia que para todas as pessoas que teem o nome da sua familia ha no meu coração muito respeito, muita estima e muita gratidão. De todos estes sentimentos se póde dar razão. Mas o amor não é assim. Ninguem sabe porque ama ou porque não póde amar. Julgo eu. É uma coisa que se sente, mas que se não explica. Pois não concorda? E agora peço-lhe que me não acompanhe mais longe. Repare que a tempestade está para breve. Espero, snr. Mauricio, que será sempre nosso amigo.
E dizendo isto, estendia-lhe a mão, que Mauricio apertou silenciosamente.
E separaram-se, seguindo direcções oppostas.
Mauricio murmurava:
— E comtudo creio que me amas. Não é essa frieza que me ha de illudir.
Pela sua parte, pensava Bertha: