Página:Os Fidalgos da Casa Mourisca (I e II).pdf/285

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mana; e a que não ceder e se não abrandar sob essa influencia é uma alma perdida para os affectos e para a regeneração.

Poderia a de Bertha estar n'este caso, a d'ella, alma sensivel e amoravel, para a qual o passado era objecto de um fervoroso culto? Poderia olhar sem lagrimas para aquelles logares onde lia como que pagina por pagina a sua vida de então?

Chorou, chorou sentada no banco musgoso, junto de uma fonte, onde ella e Beatriz tantas vezes vinham sentar-se, e onde Jorge e Mauricio corriam a ter com ellas, logo que terminavam as suas horas de estudo.

Era tarde quando voltou a si o pensamento d'aquella digressão pelo passado. Não tinha já tempo d'esta vez de visitar a Casa Mourisca. Procurou de novo a porta da quinta, por onde entrára, e sahiu com saudades d'aquelles logares.

No momento em que Bertha se afastava, dois caçadores, que desciam una pinhal visinho, d'onde se descobria a entrada da Casa Mourisca, viram-n'a e reconheceram-n'a.

— Ó Chico, olha lá, aquella não é a Bertha do Thomé? — disse um d'elles para o outro.

— Nem póde ser outra coisa.

— Só! a estas horas... e próximo da Casa Mourisca! Que quer dizer isto?

— É que vem de lá.

— Mas... a casa não está vazia?

— Tanto melhor. Se lá estivesse o velho, a coisa mudava de figura.

— Mas, falla serio, ó Chico, que conjecturas tu de toda esta historia?

— Que ou o Mauricio ou o Jorge fazem tambem as suas visitas á capoeira.

— O Mauricio foi hoje para a caçada dos Monteiros do Rio-baixo, e o Jorge, segundo ouvi dizer, está no Porto.


Quod probandum — redarguiu o outro, recorrendo ás suas reminiscencias escolasticas; e, como se re-