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Só o orgulho e o pundonor de fidalgo é que impediam D. Luiz de voltar de novo aos lares abandonados.

Esta disposição de espirito era insustentavel.

Uma manhã viram-n'o, mais nervoso de que nunca, medir a passos largos o comprimento da maior sala do solar dos Bacellos, parando ás vezes junto das janellas a olhar abstracto, atravez dos caixilhos das vidraças, para as franças das arvores mais distantes que d'alli se descobriam, entre as quaes avultavam as do parque da Casa Mourisca. De subito interrompeu uma d'estas mudas contemplações, manifestando que lhe apparelhassem o cavallo para de tarde.

O procurador, a quem fôra dada a ordem, perguntou timidamente se s. exc.ª sahia a cavallo.

Com o sêco laconismo de que, havia certo tempo, usava nas respostas ao padre, o fidalgo limitou-se a dizer:

— Parece que sim.

O padre tocou a campainha a chamar por um criado, a quem transmittiu a ordem recebida, acrescentando a de que fosse avisado o escudeiro para acompanhar s. exc.ª.

D. Luiz acudiu com vivacidade:

— Quem lhe disse isso? Eu não preciso de acompanhamento. Que me tenham apparelhado o cavallo para de tarde.

— Então v. exc.ª sahe só?! — perguntou o padre, em quem esta quebra de pragmatica causava grande confusão.

— Vou — respondeu D. Luiz, continuando o seu passeio na sala.

O padre sahiu d'alli estupefacto para a cozinha, onde foi assistir á ultima demão de uma empada, e n'esse exame conseguiu felizmente desvanecer a violencia da impressão, que a ordem do fidalgo lhe havia produzido.

Effectivamente, pouco depois do jantar, ao qual Mauricio não assistira, D. Luiz montou a cavallo, e cortejando garbosamente a baroneza, que veio despedir-se d'elle á janella, partiu a meio trote pelos caminhos dos campos.