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N'este momento ouviu-se nas escadas um rumor de passos e de vozes, que a ambos fez estremecer.

— É teu pae, Bertha? — perguntou D. Luiz, erguendo-se e olhando em redor com inquietação.

— Meu pae não está na terra. Ha tres dias que partiu e não o esperamos ainda hoje — respondeu Bertha, sobresaltada tambem.

Calaram-se como para melhor escutarem o rumor que parecia já mais proximo.

Ouviu-se uma voz dizer:

— Vejamos comtudo d'este lado; a torre póde muito bem servir para pombal.

D. Luiz estremeceu ao som d'aquella voz.

Outra respondeu em tom mais baixo:

— Parece-me que entrevejo uma porta aberta. De vagar, de vagar.

— Animo, Mauricio; olha se deixas perder as vantagens da tua bella posição.

— Mauricio! — exclamaram ao mesmo tempo D. Luiz e Bertha, e uma intensa pallidez cobriu o rosto d'esta.

D. Luiz desviou para ella um olhar, em que havia um fulgor de desconfiança.

— Ouviste?

Bertha fez-lhe signal affirmativo.

— Sabes o que significa isto?

— Não — respondeu Bertha com firmeza, levantando a vista para o fidalgo que a observava.

Na firmeza e limpidez d'aquelles meigos olhos, que não fugiam dos seus, elle conheceu a verdade da resposta.

— Não, juro-lhe que não — repetiu Bertha com energia.

— Bem — tornou o velho, carregando o sobrolho e apertando a mão de Bertha em signal de protecção — esperemos então.

Os que subiam estavam já na proximidade da porta.

D. Luiz recuou alguns passos e ficou occulto pelo cortinado do leito da filha; Bertha permaneceu immovel com a mão apoiada á harpa.