Página:Os Fidalgos da Casa Mourisca (I e II).pdf/300

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Bertha tremia cada vez mais.

— Aqui ha um mysterio. Bertha está dominada por alguma influencia má. Desconheço-a. Dar-se-ha que o mau espirito se occulte de nós, tres bons rapazes inoffensivos, que respeitam todas as entrevistas secretas, todas as doces affeições da alma, e que só querem que se seja franco e leal com elles nas palavras e nas obras, e se ponha de parte a falsa moralidade dos hypocritas?

Depois, deixando o tom de sarcasmo pelo da vehemencia, bradou:

— Se alguém me ouve e ainda tem uns restos de brio e de vergonha, que se não esconda, que appareça. É tempo de acabar a comedia. Appareça, ou eu prometto tentar a sua covardia, obrigando-o pela honra a acudir á mulher que furtivamente corteja, se a quizer livrar do galanteio que ella desdenhosamente rejeita.

Estavam mal acabadas estas palavras e D. Luiz achava-se já em frente do filho, fitando-o em silencio e com um olhar de severa e expressa interrogação.

Mauricio recuou, como se aquella apparição o ferisse em pleno peito. Os do Cruzeiro envolveram-se a mais e mais nas sombras dos corredores.

Seguiram-se alguns momentos de silencio; D. Luiz foi o primeiro a interrompêl-o.

— Aqui estou prompto para responder ao interrogatorio de meu filho e d'esses senhores que se escondem... por modestia na sombra do corredor. Interroguem.

— Meu pae... — balbuciou Maurício, baixando os olhos.

— Então deu n'isso a bravata da atrevida provocação que me fez apparecer? E os senhores não serão mais ousados? Muito bem; se é a consciencia que os abaixa ao logar de reus, eu tomo o meu logar de juiz. Que significa toda esta scena de orgia? Que infamia, que vileza os fez subir estas escadas e empurrar aquella porta? Julguei perceber que se tractava de insultar uma senhora. Boa diversão para fidalgos!

E voltando-se para Mauricio, proseguiu:

— D'antes aquelles que traziam o nome de que usas,